segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cidade das Fontes: III - Fonte do Pelicano

Fonte do Pelicano (mais fotografias)
Ano da Construção: 1745
Freguesia:
Coordenadas:  41º33.070''N   8º25.669''E
Estado da Água: 5
Estado de Conservação (de 1 a 5): 4
Data da Visita: 17 de Outubro de 2010

A monumental fonte que, desde 1967, se encontra no centro da Praça do Município, nunca serviu como fonte de abastecimento público, já que foi construída para os jardins da nova ala do Paço Episcopal, mandada construir em 1745, por D. José de Bragança. O seu nome advém da ave que é a peça central deste chafariz. A sua beleza e monumentalidade enquadram-se na perfeição nesta bonita praça bracarense.  


História
A origem da Praça do Município – onde está a fonte, remonta ao fim do século XVI, quando o arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus mandou abrir uma praça, que foi chamada de Campo de Touros, na então denominada Quinta das Hortas. Durante muitos anos, a praça serviu para isso mesmo, para touradas; mais tarde, em 1745 foi mandada construir, por D. José de Bragança uma nova ala do Paço Episcopal voltada para esta praça (fachada oeste da actual Biblioteca Pública de Braga). Poucos anos depois, em 1753, foi iniciada a construção da Domus Municipal (actual Câmara Municipal).
Em 1853 foi instalada, no centro do então Campo de Touros, uma fonte em substituição do pelourinho ali existente, fonte essa que se encontra hoje no mercado municipal e era originária do Largo das Carvalheiras. No início do século XX, a Praça do Município era usada como mercado municipal, tendo mesmo sido aí construído, na primeira metade desse século, um edifício, em ferro, para albergar o mercado.
O Chafariz do Pelicano foi mandado construir por D. José de Bragança para ornamentar os jardins da nova ala do Paço Episcopal. No entanto, alguns anos após o grande incêndio que este palácio sofreu em 1886, e que o deixou em ruínas, o chafariz foi desmontado e levado em diversas partes para o Parque da Ponte, onde permaneceu até 1967, quando foi colocado no local onde agora se encontra.

Construção
Nesta fonte, um conjunto de cinco peças estão dispostas num tanque principal; no corpo central um pilar sustém uma taça, sobre a qual se encontram três escudos de D. José de Bragança ladeados por anjos tocheiros. Sobreposta a este conjunto das pedras de armas, encontra-se uma esfera armilar, sendo que todo este conjunto é coroado com um pelicano (1) com duas crias pequenas. Além desta peça central, outras quatro constituem este chafariz: estas quatro peças, de menores dimensões que a peça central, consistem em esferas sustentadas num plinto assente ao centro de uma pequena taça, e onde se encontram, em duas delas, crianças que jorram água pela boca; nas outras duas, crianças que seguram pelicanos, sendo estes que jorram água pelo bico. A água é jorrada por estas quatro peças em direcção à peça central. O tanque no qual estas peças estão dispostas foi construído aquando da colocação da fonte neste local, em 1967, e é da autoria de Cortez Marques.
Todo este conjunto de estilo marcadamente barroco joanino, é trabalhado em granito e a sua autoria é atribuída ao artista bracarense Marceliano de Araújo.


(1) É bastante curioso que, embora o nome da fonte seja Fonte do Pelicano, as aves existentes na mesma não parecem representar tal animal.

Água
Não encontrámos informação sobre a origem desta água, que jorra de forma corrente desta fonte. Quanto à qualidade da água, não se tratando de uma fonte para abastecimento público, não há qualquer informação.

Hoje em dia
A fonte enquadra-se perfeitamente na monumentalidade da praça barroca, parecendo mesmo que sempre foi aquele o seu lugar, sendo um dos sítios da cidade de mais agradável contemplação. A fonte está limpa e com água, no entanto a conservação de algumas das suas cinco peças não é a ideal, nomeadamente as crianças que jorram água pela boca, têm um dos seus braços partidos.


Bibliografia
“Fontes de Água” de Domingos Araújo
http://www.infopedia.pt/$fonte-do-pelicano
http://bragamonumental3.blogs.sapo.pt/1336.html

2 comentários:

  1. Gostava de saber, mais sobre o barroco nesta fonte, ou seja, onde esta mesmo o barroco, porque é que esta fonte é do estilo barroco ?

    Obrigado.

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  2. Boa tarde, caro leitor.
    Agradecemos a pertinente questão que nos coloca e regozijamo-nos pelo contacto que permite uma troca de ideias, sempre tão interessante quando estão em causa estes assuntos Bracarenses!

    Julgamos que importa, em primeiro lugar, proceder a uma contextualização. Ora, o Barroco caracteriza-se pelo ênfase no "dinamismo, (...) dramaticidade, exuberância e realismo e uma tendência ao decorativo, além de manifestar uma tensão entre o gosto pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida espiritual". Consequentemente, "a escultura barroca é marcada por um intenso dramatismo, pela exuberância das formas, pelas expressões teatrais e pela luz e movimento. As figuras que exibem dramatismo, faces expressivas e roupas esvoaçantes".

    Analisando o caso concreto da Fonte do Pelicano, é do nosso entendimento que as figuras evocam muito movimento/dinamismo (veja-se o abraço do menino à ave, caso em que está também presente dramatismo, parece-nos; veja-se o caso mais evidente das aves e dos meninos que "cospem" água; os meninos que cospem água encavalitados, cada um, numa bola; a própria forma como a água é jorrada acentua o movimento pois, ao invés de simplesmente cair, é "lançada"; a pose descontraída dos anjos tocheiros, debaixo da ave central - o "pelicano", quase a caírem, em vez de terem uma pose hirta). A referida pose descontraída dos anjos tocheiros, na nossa opinião, acrescenta também realismo e expressividade, além de fugir aos cânones rígidos das representações espirituais (mais típicas do Renascentismo), sendo um factor de tensão não com um materialismo opulento (como atrás foi enunciado como marca do Barroco) mas com algo que irá no mesmo sentido: uma espiritualidade não tão rígida, dando aso a uma maior liberdade de fruição, não deixando, contudo, de se fazer notar, até porque são anjos tocheiros que estão em causa. Os próprios anjos tocheiros (com tochas) são figuras emblemáticas do Barroco, tal como a forma como a pedra é trabalhada sob os referidos anjos.

    O contexto histórico não é também de desprezar, pois a fonte foi construída na época de apogeu do Barroco em Braga, além de ter tido o intuito original de ser colocada nos jardins dum edifício marcadamente barroco: a nova ala do Paço (segundo Luís Costa: "o imponente Paço de Dom José de Bragança, obra de grande vulto mandada fazer por este arcebispo, Príncipe Real, que quis fazer da sua residência, um autêntico Paço Real. É atribuído o seu desenho ao arquitecto André Soares. Nele sobressai toda a magnificência e deslumbramento do Barroco, com resquícios do Rococó, nos desenhos das suas pedras lavradas, nos remates das padieiras, nas volutas das entradas, diferentes das da Câmara, nas suas janelas na grandiosidade da sua entra principal, encimada por um rico e trabalhado balcão e até nos dois brasões colocados nos ângulos que formam a reentrância desta entrada.").

    Esperamos, caro leitor, ter conseguido transmitir o nosso entendimento acerca da questão colocada. Esperamos sempre contar com a sua participação.

    Obrigado.
    Sino da Sé



    Fontes bibliográficas:
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Escultura_do_Barroco
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Barroco
    http://bragamonumental3.blogs.sapo.pt/1336.html
    http://sites.google.com/site/tudobarroco/a-escultura-barroca
    http://picasaweb.google.com/sinodase/CidadeDasFontes3FonteDoPelicano#5555522800464365730
    http://picasaweb.google.com/sinodase/CidadeDasFontes3FonteDoPelicano#5555522810825315586
    http://picasaweb.google.com/sinodase/CidadeDasFontes3FonteDoPelicano#5555522823741320578

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