segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Braga, Cidade das Fontes: abertura do tema

Fotografia de JGBarbosa
Iniciamos agora o primeiro "caderno temático", denominado "Braga, Cidade das Fontes" que se debruçará sobre tal tema, através de publicações semanais, à Segunda-feira, nos termos que abaixo explicamos e justificamos, pelo que convidamos à leitura breve mas atenta do que segue.

Desde sempre a busca e o aproveitamento da água foi, tal como a busca de alimentos, as grandes preocupações dos seres humanos. A escassez ou a dificuldade no acesso à água tornou-se, desde os primórdios da humanidade, um dos principais motivos para conflitos, guerras e migrações. O raciocínio oposto é válido com a mesma intensidade: a facilidade de acesso à água sempre se revelou como uma condição essencial para o desenvolvimento territorial! A vida de seres humanos em comunidade exige, portanto, uma gestão criteriosa e comum deste bem essencial à vida.

Muitas foram as formas que permitiram a irrigação de campos de cultivo e o abastecimento de cidades. Os romanos construíram inúmeros aquedutos em todo o seu império, complexas obras de engenharia, que ilustram bem a importância que davam ao abastecimento de água às suas populações. Nos campos, mesmo no Minho tão hidrologicamente abastado, uma imensidão de canais, de maior ou menor dimensão, povoam discretamente a paisagem, permitindo irrigar as culturas, em resultado duma prática tão antiga quanto a ocupação humana sedentária.

Na região do Minho, a água é abundante, por via dum conjunto de factores, como farta pluviosidade que alimenta uma infinitude de rios, ribeiros, pequenos cursos de água e ricos lençóis freáticos. A necessária disponibilização da água às populações foi, portanto, uma condição essencial ao desenvolvimento das povoações, inclusive, logicamente, a bimilenar cidade de Braga.

Não obstante a opulência hidrológica característica de Braga, pensa-se que, aquando do domínio romano, terá sido construído um aqueduto, com cerca de 30km de extensão, que captava água no rio Ave, na actual freguesia de Esperança, Póvoa de Lanhoso, junto ao sítio onde agora se situa a ponte Mem Guterres (nas imediações da actual Barragem do Ermal) e que, desde aí, a trazia até Braga, passando no território hoje pertencente a uma freguesia do concelho lanhosense de topónimo sugestivo: Fontarcada (provavelmente, aludindo a arcadas do aqueduto que aí passaria). O relato deste aqueduto é feito por D. Rodrigo da Cunha, na “História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga” de 1634, e vestígios que se julga que deverão fazer parte do mesmo foram identificados, nos últimos anos, junto à Universidade do Minho. 

São vários os registos conhecidos que ilustram a preocupação existente em Braga com o abastecimento de água à sua população, que era feito em grande parte por fontanários públicos, já que em poucas casas haveria água canalizada. D.Diogo de Sousa elegeu a construção de fontes de abastecimento público como uma das traves mestras da sua remodelação renascentista da cidade.

No fim do século XIX, o francês Armand Dayot (crítico e historiador de arte e político, que, em 1887, publicou a obra Croquis de voyage, Italie, Espagne, Portugal) escreveu sobre Braga: “Poder-se-ia chamar a cidade das fontes. Por mim, contei mais de sessenta. Algumas parecem muito antigas. Estas fontes, sempre murmurantes, produzem uma deliciosa música e espalham pela cidade em todas as ruas, uma deliciosa frescura”.

As fontes são, ou deveriam ser consideradas, a par do “romano”, do “barroco”, das “igrejas”, da “juventude” elementos-chave da identidade da cidade. Como exercício de analogia, façamos um paralelismo com as igrejas de Braga e imaginemos que, a partir de hoje, as mesmas deixariam de ter manutenção ou de a ter de forma adequada e que, daqui por dez anos, deixariam de estar abertas às pessoas e que, daqui a 30 anos, se encontrariam num estado de degradação muito avançado, nalguns casos já irremediável. Ora, hoje, consideraríamos inconcebível, e até revoltante, que tal pudesse acontecer a tamanha marca arquitectónica característica da cidade! Pois parece-nos que situação idêntica sucedeu com as fontes, na escala que as mesmas representam para a identidade Bracarense que, quanto a nós, é elevada. 

 Nos dias de hoje, muitas fontes de Braga mantêm a sua imponência original; algumas, que se encontravam dentro de domínios privados, estão agora à vista de todos; muitas, porém, encontram-se agora bastante degradadas e afastadas da sua principal função que é fornecer água. É, portanto, imperioso e urgente que a cidade (re)conheça este património e que conheça a sua História, para que assimile este factor de valorização identitária e de desenvolvimento e, consequentemente, o potencie, de forma a que, de uma vez por todas, Braga se revele capaz de suportar nos ombros o peso da bimilenar história que carrega.

A partir de hoje e com periodicidade semanal, colocaremos neste blogue informação sobre cada uma das fontes existentes no concelho, com o intuito de difundir informação que recolhemos sobre as mesmas. Obviamente, algumas fontes terão mais interesse histórico e arquitectónico que outras, mas todas elas fazem parte desse imenso património que são as Fontes de Braga. 


Bibliografia:
 “Fontes de Água” de Domingos Araújo
“Bracara Augusta” de Rui Morais


Nuno Filipe Alpoim
José Gusman Barbosa

1 comentário:

  1. Boa tarde. Estou interessada por "coisas" de Braga e pesquisando encontrei um seu comentario no blog "Alfarrabios de Braga" referente 'a fonte de Corcova (ou Corcoda) mencionando estar a escrever um artigo sobre a dita. Ja procurei aqui mas embora encontre sobre outras fontes, nao encontro nada sobre a de Corcova. Vi num outro "site" que esta' / esteve no jardim nas trazeiras da igreja de S. Francisco. Sabe se 'e verdade? Qualquer informacao ou foto, se conseguir, seria muito apreciada.
    Este seu blog tem me sido muito util! Obrigada.
    M. Rosario

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